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O mercado automotivo brasileiro com a saída da Ford

A corrida por veículos elétricos ou híbridos deixa para trás países que não estimulam inovação; o mercado automotivo brasileiro em foco.

Semana passada, a Ford pegou todo mundo de supresa ao anunciar o encerramento das suas atividades no Brasil e este assunto tem sido fartamente discutido e comentado por jornalistas, analistas, economistas, políticos, empresários, sociólogos e todos aqueles que percebem, na atitude da Ford, os sinais de maiores transformações do mercado automotivo.

O fato é que, o mundo em sua continua e extensa transformação, tem gerado profundas mudanças. Mudanças geopolíticas, o avanço tecnológico e agora a pandemia do novo coronavírus. Em resumo, não há um setor se quer que não esteja sendo mudado, questionado e exigindo uma reformulação.

O mercado automotivo

O setor automotivo, em face do avanço da conectividade, da automação, da exigência de se buscar novas formas de energia, a segurança viária e a poluição e, notadamente, a mudança de comportamento do consumidor, tem sido forçado a caminhar por outros ares. Carro autônomo, navegação embarcada, softwares de planejamento de rotas e deslocamentos, compartilhamento, veículos elétricos, novos processos de comercialização, etc., são termos que, definitivamente, fazem parte das discussões diárias atuais.

É mais que evidente que as montadoras de automóveis, além de tudo, também precisam trabalhar mais e fortemente, no sentido de adaptarem suas fábricas e seus processos produtivos a esse novo momento da história e da indústria automotiva em particular.

A mobilidade urbana é, definitivamente, o grande desafio das metrópoles contemporâneas em todas as partes do mundo. Durante o século passado vimos o automóvel se consolidar como uma solução ideal para a necessidade de transporte da época, chegando a se tornar o verdadeiro sonho de consumo popular. Hoje, porém, com o aumento desenfreado da frota de carros e o surgimento de problemas como excesso de trânsito e poluição, o cenário mudou, e vai mudar ainda mais, drasticamente.

O automóvel já não é mais o mocinho da história! Contudo, há outra vertente: dos carros elétricos. É fato também que este é o principal foco de todas as montadoras do mundo hoje.

A decisão da Ford

A decisão da Ford de encerrar a produção de veículos no Brasil pode ser apenas o início de uma transformação no perfil industrial do país.

O sócio da MRD Consulting, ex-CEO da Jaguar Land Rover e ex-diretor de operações da Ford no Brasil e América do Sul, Flávio Padovan, acredita que a saída da Ford se deu por uma série de motivos. “A montadora sofreu prejuízos sucessivos no Brasil por conta de perda de competitividade causada pela falta de modernização dos produtos e pela falta de capacidade de investimento devido aos resultados ruins. O câmbio também teve uma influência muito forte, já que insumos e componentes eram importados para a produção dos carros. Com poucas perspectivas de recuperação e estratégia global de investimentos em SUVs e picapes, o negócio no Brasil deixou de ter interesse para a Ford mundial”.

Em nota, o CEO da Ford, Jim Farley, afirmou que, ao sair do Brasil, a montadora “muda para um modelo de negócios ágil e enxuto”. Inovações devem ser o foco da empresa: “Vamos acelerar a disponibilidade dos benefícios trazidos pela conectividade, eletrificação e tecnologias autônomas”, disse Farley.

Linha de produção da Ford em Camaçari, de 2011. (Foto divulgação/Fonte: Exame)

As fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP) encerraram a produção. Já a fábrica da Troller, no Ceará, continuará operando até o fim de 2021. Mas o mercado de consumo brasileiro ainda está nos planos da Ford, que deverá manter a assistência técnica, comercializar veículos importados e lançar novos modelos já confirmados para o Brasil, como mostra o site brasileiro da Ford, na aba “próximos lançamentos”: a nova geração da van Transit, a Ranger Black, o SUV elétrico Mustang Mach 1 e o SUV 4×4 Bronco.

O mercado automotivo brasileiro: e a era dos elétricos?

Quem acompanha mais de perto o mercado automotivo brasileiro, não se surpreendeu com a saída da Ford do país tanto assim. Analistas dizem que a indústria automobilística vem tentando se reinventar no mundo todo, e uma das alternativas é focar nos veículos elétricos e híbridos. A corrida para chegar a produtos viáveis nos mercados globais está deixando para trás empresas e países que entraram tarde, ou ainda nem participam dessa disputa.

Carros elétricos ameaçam a indústria do petróleo. (Foto divulgação)

Esse processo todo de eletrificação exige elevados investimentos e, no caso da Ford, tudo indica que a matriz não quis ter esse gasto no Brasil. A situação do setor automotivo no país já vem em ritmo lento desde a crise de 2014, e foi intensificada pela queda drástica no mercado provocada pela pandemia da Covid-19. Não bastasse a situação global, o governo brasileiro não tem demonstrado interesse em definir uma política industrial que indique se o caminho aqui será o de carros elétricos, híbridos ou híbridos a etanol.

“O Brasil é um país de infinitas possibilidades, mas no setor automotivo há algumas coisas que precisam se mover um pouco mais rápido para se adequar à nova realidade”, diz Marcus Ayres, sócio-diretor da consultoria Roland Berger. Ele destaca que os três pilares da indústria automobilística são: posicionamento dos produtos, performance e progresso. “Quanto mais rápido a indústria se mover na ideia desses três pilares para se adequar à nova realidade, mais robusta ela ficará. Se ela ficar parada nessas três dimensões, daí eu não tenho dúvida alguma de que o movimento que vimos com a Ford poderemos esperar para outras montadoras.”

O futuro da mobilidade urbana pressionou a decisão da Ford em deixar o Brasil. Outras empresas saíram em disparada na frente, e agora, a mais tradicional fabricante de carros do mundo, criada pelo lendário Henry Ford, busca recuperar seu espaço. Enquanto muitas montadoras já anunciavam seus modelos híbridos e elétricos, a Ford esteve no fim da fila, divulgando seus primeiros protótipos elétricos apenas no final de 2019, durante o Salão do Automóvel de Frankfurt, na Alemanha.

O setor automobilístico tradicional, movido a combustível fóssil, enfrenta uma encruzilhada impiedosa: muda e avança ou permanece como está e fenece. É apenas uma questão de tempo. Os carros elétricos ganham cada vez mais espaços na pista e numa velocidade impressionante. Sem contar, com as mudanças que estão ocorrendo com o consumidor dos novos tempos, aquele que tem questionado o seu sentimento de posse, aquele do uso momentâneo, aquele que é adepto do compartilhamento de bens.

A Ford enxergou isso, e já vislumbra em seu horizonte. O fechamento das fábricas no país foi apenas mais um passo no processo de reestruturação global. Em todo o mundo, a preferência da Ford tem sido pelos elétricos e, desta forma, o Brasil acabou ficando de fora dos planos da montadora.

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