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Ford encerra produção na fábrica de SBC (SP) após 52 anos de história

Ford encerra produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), 650 funcionários demitidos e 52 anos de história

Na semana passada houve o dia “D”. Houve uma última assembleia, ficaram as lembranças, as lágrimas e a incerteza, para os aproximadamente 650 funcionários que foram dispensados na última quinta-feira, 31. No ano em que completa seu centenário no Brasil, a multinacional norte-americana Ford, encerrou as atividades na fábrica de São Bernardo do Campo, depois de mais de meia década de operações. Na planta do ABC paulista, inaugurada em 1967, a companhia americana produziu uma série de modelos marcantes, que atravessaram gerações…

O fechamento da fábrica pegou muita gente de surpresa. No último dia 30, o último caminhão da Ford feito no Brasil foi produzido, assim como o último veículo produzido pela montadora na fábrica de São Bernardo do Campo (SP). A decisão anunciada em fevereiro deste ano também foi um presságio sobre o fim do Fiesta. A fábrica era a mais antiga da Ford no Brasil, ainda tem a fábrica de Camaçari (Bahia), onde são feitos Ka e EcoSport.

Depois do fim de linha do Fiesta, somente caminhões da série F e da linha Cargo eram produzidos no ABC, porém, a empresa pretende sair deste segmento na América do Sul. Além dos cerca de 650 funcionários que atuavam na linha de montagem, que foram dispensados, outros 1.000 que trabalham na área operacional continuam empregados até pelo menos março do ano que vem, quando haverá transferência para o bairro paulistano da Vila Olímpia. A unidade de São Bernardo do Campo empregava 2.800 funcionários. A empresa anunciou um plano de demissão voluntária desde que o fechamento foi divulgado. O acordo previa um plano de demissão incentivada (PDI), apoio psicológico aos empregados e um programa de requalificação profissional com cursos realizados em parceria com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

A medida foi tomada após a Ford concluir que seria necessário um grande investimento para modernizar a fábrica, sem qualquer previsão de retorno a curto e médio prazos. A sede ainda está em negociações para ser vendida para a CAOA, mas sem conclusão até o momento. Ou seja, a venda da unidade para a CAOA segue paralisada.

História…

O que pouca gente sabe é que, esta imensa fábrica foi uma das primeiras unidades industriais de automóveis no Brasil e já mudou de mãos outras vezes.

A unidade do ABC paulista abriu as portas em 1967, quando a Ford, interessada em abrir mais espaço por aqui, assumindo as operações e incorporando a Willys Overland do Brasil. Além da fábrica, tinha uma segunda unidade de motores e uma terceira unidade em Pernambuco, além de um Centro de Pesquisas e o projeto M, pronto para ser lançado e que daria origem ao Corcel. A Ford impôs seu próprio estilo destituindo os antigos gerentes gerais, que passaram a se reportar ao grupo nos Estados Unidos.

A fabricação dos utilitários foi transferida para o bairro do Ipiranga enquanto a demanda por automóveis crescia. Veio o Corcel, depois o Galaxie já com muito sucesso e assim a Ford planejava nacionalizar o Maverick enquanto ampliava as vendas da F100. São Bernardo do Campo respirava novos ares e mesmo após a crise do Petróleo, em 1973, a Ford modernizava as instalações. Nos anos 1980 foram produzidos modelos que fizeram história na marca como o Escort – um projeto mundial da montadora – assim como o Corcel, o Del Rey, o Pampa, o Ka e o Fiesta. De acordo com a própria empresa, “a Ford São Bernardo foi também o berço do sindicalismo no Brasil e a primeira na indústria a ter uma comissão de fábrica, no início dos anos 80”.

E então, no início dos anos 1990 se modernizou novamente para continuar produzindo o Fiesta, carro de sucesso na Europa. Ao mesmo tempo, a Ford colocou em prática o seu plano de erguer no Nordeste uma fábrica moderna para fazer uma nova geração de veículos. Assim, São Bernardo ficou produzindo os caminhões durante longos anos, bem como as versões seguintes do Fiesta, deixando de receber investimentos.

Planejamento global Ford e um Fiesta esquecido…

A Ford passa por uma nova fase de reestruturação global e o Brasil não ficou de fora. Nos EUA, a empresa já havia anunciado que abandonaria os automóveis de passeio (com exceção do Mustang), investindo apenas em SUVs e picapes. A mesma estratégia deve ser repetida aqui, com a diferença de que apenas o Ka deve sobreviver por conta das boas vendas. Não à toa, o carro aparece constantemente no top 3 de emplacamentos.

O Ford New Fiesta foi lançado em outubro de 2011. Importado do México, ele tinha design atraente e um bom pacote de itens de série, incluindo até sete airbags no pacote mais caro. Quando foi nacionalizado em 2013, o carro perdeu boa parte do requinte, mas trouxe uma reestilização visual que o deixou alinhado com os demais modelos. Só que os investimentos no carro pararam por aí. Nos anos seguintes, o carro ganhou apenas a nova motorização 1.0 EcoBoost, oferecida por mais de R$ 71 mil. A última novidade foi um novo facelift em 2018, enquanto lá fora o carro ganhou uma nova geração, bem mais moderna. E para finalizar, some a tudo isso à estreia de rivais mais modernos, sendo investidos de vento em polpa, como por exemplo, o novo Volkswagen Polo, e então, eu, você e todos nós, entendemos agora o motivo do esquecimento do Fiesta. 😔

Há alguns anos a Ford é frequentemente ameaçada por rivais como Renault, Hyundai e Toyota. Nos caminhões a situação é pior, tendo rivais como Mercedes-Benz e Volkswagen. Os hatches médios da Ford foram engolidos pelos SUVs e foi justamente o crescimento desta última categoria que a Ford quase perdeu a luz no final do túnel. Sarcasticamente, foi a própria marca que inaugurou a categoria de SUVs compactos nacionais com o EcoSport em 2003. A história da empresa poderia ter sido diferente se algo tivesse acontecido antes…

Na galeria abaixo, relembre alguns carros produzidos pela Ford no Brasil:

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